Pé de Garrafa
Ente misterioso do qual se diz habitar as matas e capoeiras de diversas regiões do Brasil, o Pé de Garrafa praticamente não é visto pelas pessoas quando está andando pelo mato. Os poucos relatos feitos a seu respeito o dão como sendo de coloração negra, tendo corpo de homem, todo coberto de pêlos, um único olho e um chifre que fica bem no meio da testa. Além disso, essa estranha criatura possui apenas um braço, com os dedos da mão terminados em grandes garras, e somente uma perna, mas esta não possui pé, e sim um toco com formato de fundo de garrafa, que vai deixando vestígios inconfundíveis pelos lugares por onde passa. Daí a razão do seu nome.
Segundo a lenda, ele costuma gritar esperando que alguém lhe responda, e assim po-der seguí-lo. Diversos depoimentos testemunham que as pessoas ouvem seus gritos que ora parecem ameaçadores, ora familiares, e quando procuram o dono da voz, na certeza de que se trata de algum caçador perdido na mata, quanto mais voltas dão em busca do local de onde vem o som, menos ele lhes serve de guia, porque então parece que vêm de todas as direções. E com isso os que estão esquadrinhando a mata aca-bam sem saber onde estão, ou então se cansam e voltam para casa depois de muito trabalho para reencontrar o caminho habitual.
Apesar do desconhecimento quase completo a respeito do Pé-de-garrafa, muita coisa se tem dito sobre ele, inclusive que seja alguma coisa assemelhada ao Mapinguari, Bicho-homem ou Capelobo, três outras criaturas pertencentes ao rol de seres fantásti-cos do nosso folclore. Alguns outros depoimentos lhe dão similaridade com o capeta, mas a suposição fica por aí mesmo, porque como ninguém o viu de perto, não há então como dizer com certeza se esse ente estranho e desconhecido é assim ou assado. O que se acredita é que o Pé-de-Garrafa habita as matas, anda pelas estradas ou ronda as casas à noite, gritando como um desesperado, à procura não se sabe do quê. Nes-sa hora todos os que o ouvem se encolhem na cama ou na rede, tremendo de medo, e quando o dia amanhece, é certo que os moradores da habitação vão encontrar em tor-no das casas, ou na poeira dos caminhos, as pegadas redondas com uma saliência no meio, mas sem que uma única criação esteja faltando. Por isso ninguém sabe se ele é inofensivo ou se mata para comer.
No Paraná se diz que essa criatura evita ao máximo o contato com as pessoas, atrain-do-as, porém, quando assim o deseja. E de acordo com a crença popular, quem por-ventura estiver sendo perseguido por ela só conseguirá escapar se lhe atingir o umbi-go, que é o seu ponto fraco. No interior dos estados de Goiás, Tocantins e Piauí, tam-bém muito se fala sobre o Pé-de-Garrafa, que com seus gritos consegue atrair para o meio da mata caçadores que pensam ter um companheiro extraviado. Mas a partir de certo momento esses gritos vão se tornando assustadores porque passam a vir de to-das as direções, confundindo os homens e os apressando a voltar para casa, embora eles custem a achar o caminho certo. Nessas regiões, o misterioso ser é conhecido por muitos outros nomes, como Cão-Coxo, Capenga, Cambeta e Pé de Quenga.
O site oficial da cidade de Pirenópolis, em Goiás, apresenta um texto intitulado “Os Pés de Garrafa”. De autoria de Mauro Cruz, seu administrador e guia de turismo, ele diz o seguinte: “No escuro da noite sem lua, por entre as árvores da mata, um grito ecoa como um gemido agonizante. Seus passos soam – tuc, tuc, tuc – como pilão socando o chão. Dizem matutos experientes que um Pé de Garrafa quando pega uma pessoa, espanca-o drasticamente… estraçalha-o! Pequenos e horripilantes, suas pernas são unidas numa só, tomando a forma de uma garrafa. Morenos cor de terra, cabelos des-grenhados e bocarra na cara de mau, moram sob as locas das grandes pedras. Se ali-mentam de animais e ervas, e só aparecem a noite. Huuuuuuu!!!!”
No Piauí, o compositor Enes Gomes é o autor da música “Pé-de-Garrafa”, cuja letra diz que “Um caçador se perdeu pras bandas do Piauí / Não sabia do companheiro e nem sabia pra onde ir / E começou a gritar pra ver se o amigo ouvia / E alguém de muito longe o seu grito respondia / Quando foi chegando perto, deu pra ver, não era homem / Era um bicho muito feio, parecia um lobisomem / Subiu depressa numa árvore pra po-der se defender / O bicho rosnando em baixo, como é que vai ser? / Passou a noite todinha nessa tremenda agonia / Mas o bicho foi embora antes de nascer o dia / E por fundo de garrafa deixou pegadas no chão / Desde então se alguém se perde, é melhor não gritar não / Pé-de-Garrafa pode chegar, Pé-de-Garrafa pode pegar”.

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